O presidente do Turismo do Porto e Norte disse hoje que a reabilitação, por mais de um milhão de euros, do Castelo Santiago da Barra, em Viana do Castelo, sede da entidade, vai ser candidatada a fundos europeus.
Em declarações à agência Lusa, Luís Pedro Martins explicou que o projeto de reabilitação do forte quatrocentista construído para defender a então Viana da Foz do Lima, atual Viana do Castelo, propriedade do Estado, será candidatado, em conjunto, com a Câmara Municipal.
O forte foi cedido pelo Estado em 1983.
“O TPN está completamente alinhado com a Câmara de Viana do Castelo nesta questão. Estamos em diálogo para fazermos a candidatura conjunta. O valor final da intervenção ainda não está totalmente estimado, mas seguramente ultrapassará mais de um milhão de euros”, disse, questionado pela Lusa a propósito de imagens divulgadas, na quinta-feira, pela página Olhar Viana do Castelo, no Facebook.
As imagens são acompanhadas de um texto em que se lê que “é lamentável a falta de preservação e o estado de abandono do Castelo de Santiago da Barra. É urgente conter o avanço da degradação evidente deste património histórico da cidade de Viana do Castelo”.
“É lógico que aquele Castelo, até porque é onde se encontra instalada a nossa sede, merece uma intervenção, mas a intervenção que merece está muito para lá de uma limpeza de vegetação. O que mais me preocupa é o edificado e, depois da recuperação, abrir portas com circuitos de visitação e com conteúdos para que o turista possa ter uma visita minimamente interessante”, especificou.
Luís Pedro Martins, adiantou que o trabalho na candidatura de reabilitação “está a ser feito há dois anos, com várias visitas técnicas entre o TPN, a Câmara de Viana do Castelo, a Direção Regional de Cultura do Norte”.
“Neste momento, estamos a preparar uma candidatura para submeter ao Plano de Recuperação do Turismo (PRT) ou do Programa Operacional (PO) 2020. Só estamos à espera porque ainda não saíram nem as linhas de financiamento, nem os regulamentos. A partir do momento em que saiam, iremos submeter a candidatura”, referiu.
O responsável explicou que o projeto prevê “desde a recuperação do edificado, à criação de um circuito turístico de visitação, passando pela instalação no interior do castelo, em local ainda a definir, de um centro interpretativo dos Caminhos de Santiago, até à recuperação edifício sustentável em termos ambientais”.
“Não sendo desculpa, o facto de estarmos há mais de um ano em teletrabalho permitiu alguma facilidade. No entanto, a nossa ambição não é só cortar as relvas. A nossa ambição é fazer algo que há décadas nunca foi feito”, afirmou.
Luís Pedro Martins apontou ainda para este ano, o início de outra intervenção, resultante de uma outra candidatura submetida em 2020 e que estará para ser iniciada.
Esta intervenção “foi candidatada ao EEA Grants que é um mecanismo de apoio financeiro, que envolve o Espaço Económico Europeu (European Economic Area), composto pelos Estados-Membros e por três países da Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA, na sigla inglesa), Islândia, Liechtenstein e Noruega, que partilham o mesmo Mercado Interno e que tem como destino os Estados-membros da União Europeia, com maiores desvios do Produto Interno Bruto (PIB)per capita”.
Intitulada Fortes da Costa, a candidatura tem como promotores o TPN, a Direção Regional de Cultura do Norte e as Câmaras de Viana do Castelo e Caminha.
O investimento global ronda os 900 mil euros para repartir pelo Fortim de Rego de Fontes(Areosa), Fortim de Montedor (Carreço), Forte Santiago da Barra, todos no concelho de Viana do Castelo e Forte do Cão, na Gelga, no concelho de Caminha.
De acordo com informação que consta na página oficial da Direção Geral do Património Cultural, hoje consultada pela Lusa, “cerca de 1502 o rei D. Manuel I mandou construir a Torre da Roqueta, uma fortaleza abaluartada situada no extremo oeste da vila, que serviu a defesa da foz nas seis décadas seguintes”.
Em 1567 iniciaram-se os estudos preparatórios de uma cerca retangular que aproveitava a torre manuelina como cunhal sudoeste da sua muralha, da autoria de Simão de Ruão. As obras decorreram entre 1568 e 1572, sendo custeadas pela Coroa e pela população local.
Já “durante o reinado de D. Filipe I a fortificação foi remodelada e ampliada. Em dezembro de 1588, o engenheiro Filipe Terzi deslocou-se a Viana por ordem do monarca para estudar o forte aí existente e desenhar uma nova fortaleza. Em outubro de 1589, Terzi terá regressado à Foz do Lima "com a planta e as instruções necessárias" para a edificação do Forte de Santiago (RIBEIRO: 2016, pp. 59-61)”.
A “obra, iniciada nesse ano de 1589, seria dirigida pelo mestre de campo Pedro Vermudez de Santisso, sendo possível que Tibúrcio Spannochi ou um dos irmãos Fratin tenham realizado alterações ao traçado, delineando o reforço do dispositivo defensivo inicialmente projetado. A empreitada durou até 1593, data em que o forte seria provido de artilharia pela primeira vez”.
O Forte de Santiago voltou a receber obras de remodelação entre 1652 e 1654, construindo-se então o baluarte de São Pedro.
Entre 1686 e 1703 foram realizadas obras de reforço e ampliação, com a edificação dos revelins e de alguns edifícios no interior da praça de armas, numa empreitada dirigida numa primeira fase por Miguel de Lescole e, a partir de 1693, por Manuel Pinto de Villalobos.
Classificado como imóvel de interesse público em 1967, o Castelo ou Forte de Santiago da Barra passou para a tutela do Ministério das Finanças em 1979. A partir de 1983 instalou-se no forte a extinta Região de Turismo do Alto Minho(RTAM), sendo atualmente a sede do organismo que sucedeu à RTAM, o Turismo Porto e Norte. No espaço funciona também a Escola de Hotelaria de Viana do Castelo.
Notícia da LUSA de 23.07.2021