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Para que serve a praça de touros da primeira cidade antitouradas do país?

Praça de Touros, Viana do Castelo

Três anos depois de ter sido adquirida pela Câmara de Viana do Castelo, a antiga praça de touros está abandonada e a degradar-se, convertendo-se num problema para o município, que, em 2009, fez história ao transformar-se na primeira "cidade antitouradas" de Portugal.
Quando a praça foi comprada, em 2008, por pouco mais de cinco mil euros, o objectivo era transformá-la em Museu de Ciência Viva. Mais tarde, foi apontada como sede do futuro Centro de Mar. Recentemente, ficou sem destino, depois de o município ter decidido que o equipamento destinado a promover as actividades ligadas ao mar ficaria, afinal, no navio Gil Eannes (ver texto ao lado).
O presidente da Câmara de Viana, José Maria Costa, reconhece que, nesta altura, "não há uma ideia clara" para o espaço. Acrescenta que tem "várias hipóteses em cima da mesa" que prefere não revelar, "por não estarem suficientemente amadurecidas". "É um processo que está em avaliação e cuja decisão será sustentada no próprio desenvolvimento da cidade e das necessidades de equipamentos", acrescenta o autarca sobre o futuro da praça.

Situada na margem direita do rio Lima, no Parque da Cidade, a antiga praça de touros, inaugurada em 1948, é considerada, nos meios artísticos da cidade, como um espaço cuja localização tornaria ideal para receber grandes eventos culturais. Para David Martins, músico e produtor de eventos como o Festival de Jazz de Viana do castelo, que este ano assinalou o 20.º aniversário, o redondel seria "uma excelente sala de produção teatral" que poderia servir "as mais variadas expressões artísticas, desde a dança, ao teatro, música e até ao circo, por se tratar de um chapitô natural".
David Martins sustenta que a antiga praça necessita apenas de uma reavaliação de conceito. Defende que faria mais sentido que o conceito de espaços multiusos, actualmente associado ao Coliseu projectado por Souto Moura, que está em construção na frente ribeirinha da cidade, fosse reservado à praça de touros. "A praça tem mais valências para ser sala multiusos do que o pavilhão que está a ser construído com essa designação", afirma.
Segundo este produtor, o Coliseu, cujas obras pararam em Fevereiro por falta de dinheiro, devendo ser retomadas em Setembro, deveria ver o programa alterado e funcionar como auditório, com pouco mais de mil lugares, para espectáculos de média dimensão. David Martins observa que, assim, ainda com o Teatro Sá de Miranda, que tem 400 lugares, a cidade "ficaria servida com três tipos de salas para eventos de diferentes dimensões".
O produtor acredita que, mais do que de "vontade política", a falta de financiamento "poderá inviabilizar" este tipo de solução. Que "não morreria por falta de público em Viana", garante. "O problema, como noutras zonas do país, é a falta de verba para garantir uma programação contínua", sublinha.
Entre os empresários do concelho, considera-se que uma solução para a praça de touros poderia muito bem passar pela readaptação a centro de feiras e exposições. No entanto, o presidente da Associação Empresarial de Viana do Castelo, Luís Ceia, lembra que essa já é uma função atribuída ao pavilhão da Associação Industrial do Minho (AIMinho), no Campo da Agonia e será também uma das valências do Coliseu de Souto Moura, futuro Centro Cultural de Viana do Castelo.
Quando abrir portas, este equipamento estará preparado para acolher todo o tipo de eventos culturais de âmbito regional, para promoção do turismo, dos produtos tradicionais, do património e da cultura, além de provas desportivas. Eventos ligados à moda, mostras de cinema e vídeo, exposições náuticas foram já propostas anunciadas pela câmara para preencher a programação do Centro Cultural.
Em 2009, o ex-candidato à Presidência da República Defensor Moura, então presidente da Câmara de Viana, anunciou um projecto de reconversão da praça de touros, inaugurada há 62 anos, num Museu de Ciência Viva. Defensor Moura foi também responsável pela proibição de qualquer espectáculo tauromáquico em espaços públicos e privados do município. Na altura, a ideia era criar uma estrutura semelhante ao Museu do Homem, da Corunha, na Galiza. Esse museu funcionaria em articulação com o parque ecológico urbano, mesmo ao lado, com os seus cerca de 23 hectares, a montante da ponte Eiffel, na zona da caldeira de marés das antigas Azenhas D. Prior, junto ao rio Lima.No entanto, quando José Maria Costa, que integrava a vereação de Defensor Moura, chegou à presidência da câmara, o projecto foi considerado desadequado, face à intenção do novo executivo de dar "grande visibilidade" às actividades ligadas ao mar, para dinamizar esse sector económico.
O projecto do Centro de Mar começou então a ganhar forma. Foi elaborado pela Sociedade de Avaliação de Empresas e Risco e chegou a ser anunciada a sua instalação no antigo redondel. Contudo, uma nova reavaliação do processo acabou por eleger o navio Gil Eannes como sede do Centro de Mar, dada a sua proximidade à futura marina Atlântica e aos três centros náuticos de recreio que estão orçados em 5,1 milhões de euros e que vão começar a ser construídos no próximo ano.

Fonte: Jornal Público (22.08.2011)

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