Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), empresa detida totalmente pelo Estado mas que deverá ser parcialmente privatizada, apresentou, em 2009, prejuízos de cerca de 22 milhões de euros, situação provocada sobretudo pela recusa do Governo dos Açores em aceitar o ferry-boat Atlântida que encomendou à unidade minhota. Com estes resultados, o passivo total da empresa eleva-se agora a, pelo menos, mais de 60 milhões. Segundo fonte dos ENVC, “senão fosse o negócio dos Açores”, a empresa poderia ter registado resultados operacionais positivos, o que em ano de crise seria um factor “determinante” na estratégia do maior estaleiro naval português.
Dados revelados há um ano pela própria empresa, os ENVC tinham na altura um passivo entre 35 a 40 milhões de euros e, em contra partida, contratos para a construção de navios e lanchas para a Marinha, que envolvem encomendas de 500 milhões de euros. A este passivo acumulado, somam-se agora mais 22 milhões, resultantes do exercício de 2009. “O caso Atlântida veio agravar muito as nossas contas. Há um navio construído, mas encostado na doca há um ano. É um activo que temos ali [negócio inicial de 50 milhões de euros com os Açores] mas que até o conseguirmos vender vamos ter a falta desse encaixe, além dos encargos da construção e agora as indemnizações aos Açores”, apontou fonte da empresa pública. Estes são dados que deverão ser revelados nas contas dos ENVC, a apresentar em Assembleia-Geral que deverá realizar-se até 31 de Março e que terá no caso do ferry Atlântida o maior revés em termos financeiros, além da falta de novos contratos. Tudo porque depois da recusa do Governo dos Açores em aceitar o navio (e cancelou a construção do segundo encomendado, o Anticiclone), em Dezembro de 2009 os ENVC acordaram o pagamento de 40 milhões de euros pelos dois navios, cuja propriedade passaria para aquela empresa pública. Na origem da recusa açoriana esteve uma diferença de um nó na velocidade máxima a atingir pelo ferry. Entretanto, face aos anúncios de privatização de “parte” da empresa, actualmente detida a 100% por capitais públicas, a preocupação tomou conta dos trabalhadores, isto numa altura em que há meses não se conhecem novas encomendas, fruto da crise, além das encomendas militares. Para 07 de Abril acaba de ser agendada uma reunião entre os representantes dos trabalhadores e o secretário de Estado da Defesa, que tutela os ENVC. Isto depois de a Comissão de Trabalhadores ter já afirmado que aquela empresa é a “única” de construção naval de média dimensão no País.
Fonte: Rádio Geice (2010-03-25)